NASCIDA NO POS GUERRA


Dois anos após a Segunda Guerra Mundial, na Cidade do Rio de Janeiro, no Estado da Guanabara, no dia 06 de Abril de 1947, nasce Isabel de Paula Miranda, a quarta filha de Ladislau de Paula Miranda e Nair de Siqueira.

Papai não foi à guerra porque já era casado com minha mãe e já tinham um filho, Jorge, nascido em l943. Se os aliados não conseguissem dominar o inimigo e a guerra continuasse fatalmente meu pai iria pois já tinha sido convocado para a segunda chamada dos reservistas brasileiros a serem enviados; se isso tivesse acontecido talvez eu não teria nascido e não poderia ter escrito este relato.

Já meu tio Eugênio de Paula Miranda, irmão mais novo de papai, foi lutar na tomada de Monte Castelo na Itália, pelo “Regimento Sampaio” (que, conforme tio Eugênio dizia, foi o regimento brasileiro que perdeu o maior número de soldados). Eu guardei por muitos anos algumas fotos que papai guardou do irmão nas trincheiras da Itália, porém as entreguei à minha mãe a seu pedido para que fosse entregue a um dos seus filhos porque ela achava de direito.

Ao retornar da guerra, tio Eugênio casou-se com sua namorada Conceição e teve dez filhos e ainda viveu muito tempo. Ficou viúvo casou-se de novo com uma viúva de nome Elizabeth, muito mais jovem que ele, mas quiz o destino que ele ficasse viúvo de novo, vivendo até ficar bem velhinho, sendo o último dos seus irmãos a deixar este planeta.

Meu pai era filho de pais mineiros de Carangola, Cecílio de Paula Miranda e Izabel de Paula Miranda. Além de papai, meus avós paternos deixaram órfãos mais três filhos: meu tio Sebastião (que era o mais velho dos quatro irmãos), tio Eugênio (o que foi à guerra) e Maria Leopoldina; na época todos crianças. Quando meus avós paternos morreram papai tinha apenas 7 anos. Os irmãos foram criados separados só voltaram a se reencontrar já adultos. Papai foi mandado para Teresópolis para trabalhar em uma fazenda bem no interior, no meio da floresta, onde existiam muitos animais exóticos como onças, porcos do mato, ariranhas, vários tipos de macacos, jacarés, cobras sucuris enormes e muitos outros.

Quando papai tinha uns 16 anos foi para a cidade onde trabalhou como condutor de charretes. Foi lá que ele conheceu a família de minha mãe, meu avô materno, Manoel Francisco de Siqueira, que era lavrador e trabalhava a terra entre o Rio Paquequé e a Várzea, no centro de Teresópolis, que naquela época ficava no meio de uma imensa e linda floresta. ‘Para se chegar a Teresópolis tinha-se que ir de trem porque ainda não havia estradas do Rio de Janeiro para lá, ou então ir por uma longa estrada passando por Petrópolis, o que levava muito tempo.


Ainda me lembro bem da “Maria Fumaça” – eu morria de medo e me escondia atrás das saias de minha mãe quando a locomotiva vinha chegando na estação e soltava aquele “aterrorizante apito”,. A locomotiva vinha pela Serra dos Órgãos e adentrava por um túnel, saindo em um lindo vale que era a pequena cidade de Teresópolis, cheia de cachoeiras, rios e flores. Mamãe era a terceira filha do quarto casamento do meu avô Manoel com minha avó Jovina Mateus de Siqueira, descendente de portugueses.

Minha avó materna morreu de “resguardo quebrado” pouco tempo depois de ter dado à luz ao seu quarto filho deixando órfãos além da mamãe o caçula Ataliba, Antonio e Isaura. Mamãe, ainda pré-adolescente, veio para o Rio de Janeiro trabalhar na Urca como copeira de uma família de médicos. Papai que nessa época trabalhava como garçom no Restaurante Universo, na Rua da Carioca, lugar freqüentado por homens da sociedade do Rio de Janeiro, artistas de teatro e do cinema em ascensão. Passara-se algum tempo e um dia os dois se reencontraram nos arredores da Urca, começaram a namorar, se casaram.

Meu pai então deixou o restaurante e foi trabalhar no Cortume Carioca, na Penha, subúrbio da Leopoldina, por ser mais próximo à casinha que ele alugou na Rua Lusitânia, pois já não poderia constituir uma família morando em um quarto de solteiro. Tiveram nove filhos, dos quais eu sou a quarta filha e como ironia do destino a única que sobreviveu àquele período de pós-guerra porque meus pais perderam dois filhos de subnutrição Sebastiana e Carlinhos e quando eu tinha apenas alguns meses de nascida veio a falecer o meu irmão mais velho, Jorge de Paula Miranda, que teve um “mal súbito” aos cinco anos de idade.

Nesse período minha mãe e eu ficamos aos cuidados da minha tia Isaura que morava em Teresópolis, pois mamãe ficou muito transtornada devido a perda de seu primeiro e saudável filho, já quase criado, de uma forma não inesperada, mesmo para aquela época. Quando eu já tinha quase 5 anos é que nasceu minha irmã Maria da Penha. Depois de três anos, nasceu o meu irmão Jorge Jerônimo e quando eu tinha 12 anos nasceu o caçula Manoel Cecílio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário