Pracinhas brasileiros na II Guera Mundial


Pracinhas brasileiros na tomada de Monte Castelo, Itália.






Meu tio paterno, Eugenio de Paula Miranda, foi voluntario na Tomada de Monte Castelo, retornou intacto ao Brasil, se casou teve 10 filhos, viu os netos crescerem e muitos bisnetos. Faleceu com quase noventa anos rodeado pela grande familia. Um verdadeiro heroi.

NASCIDA NO POS GUERRA


Dois anos após a Segunda Guerra Mundial, na Cidade do Rio de Janeiro, no Estado da Guanabara, no dia 06 de Abril de 1947, nasce Isabel de Paula Miranda, a quarta filha de Ladislau de Paula Miranda e Nair de Siqueira.

Papai não foi à guerra porque já era casado com minha mãe e já tinham um filho, Jorge, nascido em l943. Se os aliados não conseguissem dominar o inimigo e a guerra continuasse fatalmente meu pai iria pois já tinha sido convocado para a segunda chamada dos reservistas brasileiros a serem enviados; se isso tivesse acontecido talvez eu não teria nascido e não poderia ter escrito este relato.

Já meu tio Eugênio de Paula Miranda, irmão mais novo de papai, foi lutar na tomada de Monte Castelo na Itália, pelo “Regimento Sampaio” (que, conforme tio Eugênio dizia, foi o regimento brasileiro que perdeu o maior número de soldados). Eu guardei por muitos anos algumas fotos que papai guardou do irmão nas trincheiras da Itália, porém as entreguei à minha mãe a seu pedido para que fosse entregue a um dos seus filhos porque ela achava de direito.

Ao retornar da guerra, tio Eugênio casou-se com sua namorada Conceição e teve dez filhos e ainda viveu muito tempo. Ficou viúvo casou-se de novo com uma viúva de nome Elizabeth, muito mais jovem que ele, mas quiz o destino que ele ficasse viúvo de novo, vivendo até ficar bem velhinho, sendo o último dos seus irmãos a deixar este planeta.

Meu pai era filho de pais mineiros de Carangola, Cecílio de Paula Miranda e Izabel de Paula Miranda. Além de papai, meus avós paternos deixaram órfãos mais três filhos: meu tio Sebastião (que era o mais velho dos quatro irmãos), tio Eugênio (o que foi à guerra) e Maria Leopoldina; na época todos crianças. Quando meus avós paternos morreram papai tinha apenas 7 anos. Os irmãos foram criados separados só voltaram a se reencontrar já adultos. Papai foi mandado para Teresópolis para trabalhar em uma fazenda bem no interior, no meio da floresta, onde existiam muitos animais exóticos como onças, porcos do mato, ariranhas, vários tipos de macacos, jacarés, cobras sucuris enormes e muitos outros.

Quando papai tinha uns 16 anos foi para a cidade onde trabalhou como condutor de charretes. Foi lá que ele conheceu a família de minha mãe, meu avô materno, Manoel Francisco de Siqueira, que era lavrador e trabalhava a terra entre o Rio Paquequé e a Várzea, no centro de Teresópolis, que naquela época ficava no meio de uma imensa e linda floresta. ‘Para se chegar a Teresópolis tinha-se que ir de trem porque ainda não havia estradas do Rio de Janeiro para lá, ou então ir por uma longa estrada passando por Petrópolis, o que levava muito tempo.


Ainda me lembro bem da “Maria Fumaça” – eu morria de medo e me escondia atrás das saias de minha mãe quando a locomotiva vinha chegando na estação e soltava aquele “aterrorizante apito”,. A locomotiva vinha pela Serra dos Órgãos e adentrava por um túnel, saindo em um lindo vale que era a pequena cidade de Teresópolis, cheia de cachoeiras, rios e flores. Mamãe era a terceira filha do quarto casamento do meu avô Manoel com minha avó Jovina Mateus de Siqueira, descendente de portugueses.

Minha avó materna morreu de “resguardo quebrado” pouco tempo depois de ter dado à luz ao seu quarto filho deixando órfãos além da mamãe o caçula Ataliba, Antonio e Isaura. Mamãe, ainda pré-adolescente, veio para o Rio de Janeiro trabalhar na Urca como copeira de uma família de médicos. Papai que nessa época trabalhava como garçom no Restaurante Universo, na Rua da Carioca, lugar freqüentado por homens da sociedade do Rio de Janeiro, artistas de teatro e do cinema em ascensão. Passara-se algum tempo e um dia os dois se reencontraram nos arredores da Urca, começaram a namorar, se casaram.

Meu pai então deixou o restaurante e foi trabalhar no Cortume Carioca, na Penha, subúrbio da Leopoldina, por ser mais próximo à casinha que ele alugou na Rua Lusitânia, pois já não poderia constituir uma família morando em um quarto de solteiro. Tiveram nove filhos, dos quais eu sou a quarta filha e como ironia do destino a única que sobreviveu àquele período de pós-guerra porque meus pais perderam dois filhos de subnutrição Sebastiana e Carlinhos e quando eu tinha apenas alguns meses de nascida veio a falecer o meu irmão mais velho, Jorge de Paula Miranda, que teve um “mal súbito” aos cinco anos de idade.

Nesse período minha mãe e eu ficamos aos cuidados da minha tia Isaura que morava em Teresópolis, pois mamãe ficou muito transtornada devido a perda de seu primeiro e saudável filho, já quase criado, de uma forma não inesperada, mesmo para aquela época. Quando eu já tinha quase 5 anos é que nasceu minha irmã Maria da Penha. Depois de três anos, nasceu o meu irmão Jorge Jerônimo e quando eu tinha 12 anos nasceu o caçula Manoel Cecílio.

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

Lembro-me como se fosse ontem do dia em que me despedi da chupeta que usei até os cinco anos de idade. Era de uma borracha um pouco dura que deformava os dentes. Naquela época ainda não existia matéria plástica, derivada do petróleo, e todos os artefatos eram feitos de borracha originária de seringueiras. Eu era muito apegada e usava chupeta sempre que podia, mas principalmente para dormir. Havia uma menina da mesma idade que eu que morava numa casinha abaixo da nossa cujo telhado ficava abaixo no nível do nosso pequeno quintal. A menina não usava mais chupeta e me convenceu a jogar a minha sobre o telhado de sua casa dizendo eu ganharia um presente da fada madrinha.


Fiquei várias noites sem dormir direito com saudades da “minha chupeta” e imaginando-a sobre o telhado. Mamãe, vendo-me sentada no escuro, ficava me perguntando: “O que foi minha filhinha, estás com saudades da tua chupeta? Fala que a mamãe compra outra.” E eu respondia que não – determinada desde criança - tinha que ”agüentar”, afinal a decisão tinha sido minha. Pouco tempo depois essa minha amiguinha veio a falecer vítima de crupe, que era muito comum e não tinha cura, assim como várias doenças virais


Naquele tempo ainda não havia geladeira e assim que papai recebia seu pagamento, que era aos sábados, ele passava no Matadouro da Penha e comprava carne fresca que chegava ainda morna em casa. Mamãe fazia bifes que eram consumidos no mesmo dia e assava o restante da carne e a colocava em uma lata cheia de gordura de porco para conservar durante todo o mês. As carnes-secas, lingüiças e queijos eram guardados pendurados acima do fogão para conservarem secas.


Passei minha infância ora no Rio de Janeiro, ora em Teresópolis. Em Brás de Pina, Rio de Janeiro, eu cresci livre correndo por entre campos, pastos, árvores e córregos; num lugar onde as vacas e cabras pastavam com seus filhotes e pássaros faziam seus ninhos nas inúmeras árvores frutíferas. Nascentes d’água brotavam nos morros ao derredor de onde morava. Havia muitas pedras grandes, que chamávamos de “pedreiras”. Eu Subia em árvores, soltava pipas feitas por mim mesma com as varinhas de bambu que brotavam abundantemente na região; brincava com bolas de gude, caçava rolinhas com atiradeiras que fazia com forquilhas de galhos e elástico, subia até o topo dos morros e de lá escorregava dentro de pranchas improvisadas.


Às vezes rolava morro abaixo esfolando-me toda; mamãe me dava umas palmadas e um bom banho de sal. Foi uma época em que não havia as facilidades de hoje, luz, fogão a gás, televisão, computador. Levávamos uma vida simples, de muito trabalho: as panelas de alumínio ficavam negras pela fuligem dos fogões a querosene e tínhamos que areá-las na beira do rio com sabão e areia até ficarem brilhando, parecendo um adorno na cozinha penduradas no “paneleiro”, um tripé feito também de alumínio. Tudo era feito em casa e o que se cozinhava tinha que ser consumido logo por não haver geladeira.


Mamãe, como quase todas as mulheres do lugar, criava animais para consumo doméstico. Como ela passou sua infância trabalhando na roça, sabia ligar com os animais e era sempre chamada para sacrificar os animais maiores, tais como porcos e cabritos quando algum vizinho ou parente precisava. Lembro-me de que quando se matava um frango, geralmente em dias especiais, era a maior festa, porque os miúdos do frango eram dado para as crianças prepararem – era uma maneira de treinar as meninas desde cedo a aprendizagem na cozinha. Todas as mães davam algum tipo de grão, legumes ou temperos para seus filhos e fazíamos a “comidinha” em mutirão. Assim aprendi a cozinhar muito cedo.


A água era carregada em latas na cabeça das mulheres e crianças ou pelos homens duas de cada vez em um tipo de “balança”, como era chamada; era um pedaço de madeira com duas correntes em cada ponta, com ganchos nas extremidades onde se encaixavam as latas; cada lata dessa tinha um pedaço de madeira pregado no meio para poder segurar com a mão ou encaixar o gancho da balança. Papai carregava duas latas de vinte litros d’água cada vez sempre que chegava do trabalho e eu carregava uma lata de dez litros d’água sob uma rodilha de pano na cabeça até um galão que abastecia nossa humilde residência.

COMUNIDADES DOS ANOS 50


Nessas comunidades que eram habitadas por pessoas simples, trabalhadores das indústrias próximas, como era o caso do meu pai, descendentes de antigos escravos e alguns retirantes, havia muito respeito entre as pessoas. As crianças podiam correr soltas sem os perigos de serem atropeladas por carros ou de serem atingidas por balas perdidas. Os parentes e amigos viviam visitando uns aos outros sem o perigo de serem atacadas por marginais por não serem moradores do local. Todos os visitantes eram recebidos com alegria pelos moradores e o pouco que se tinha era dividido entre todos.

Nestes lugares afastados do Centro da Cidade havia muitas comunidades como a nossa, com a tradição dos grandes “Terreiros de Umbanda” e a participação ativa nas festividades dos Santos católicos. Os dias dedicados aos Santos eram comemorados com festa no Parque da Igreja Nossa Senhora da Penha, uma igreja muito linda que foi edificada sobre uma enorme pedra e que até hoje é um dos cartões postais da cidade. O Parque da Penha ficava repleto de famílias com suas crianças correndo pela grama, brincando e até os adultos jogavam peteca que era a diversão favorita da meninada. Muitos romeiros subiam os 365 degraus da escadaria da igreja, alguns de joelhos pagando suas promessa à Santa Protetora.

Lembro-me que íamos sempre visitar uma velha senhora negra, muito idosa chamada “Vovó Severa”, que havia sido escrava. Ela tinha um terreiro no Morro da Caixa D’água, que era habitado por poucos grupos de famílias negras, ela era a “Mãe de Santo” da minha tia Carmem. Na subida do morro a passagem era estreita, cheia de pedras e arbustos e como nos outros morros habitados por essa gente humilde não havia drogas, nem armas, nem roubos, nem nenhum tipo de violência.

Como nos outros morros das redondezas, as pessoas se respeitavam, se visitavam e eram solidárias. Se aparecesse algum indivíduo degenerado e com hábitos nocivos à população, a própria comunidade se unia para banir para bem longe tal pessoa e ela não mais retornava senão levava uma surra do povo do lugar.

Minha tia Carmem tinha um “terreiro” dentro do quintal onde morávamos. Eu, minha prima Iara e algumas amigas de infância pegávamos fumo do “gongá” do preto velho e fumávamos escondidas de nossas mães com cachimbos feitos de bambu e canudo de mamona. Uma vez mamãe nos pegou e me fez mastigar o fumo até ficar enjoada. Nunca mais pus nenhum tipo de cigarro, cachimbo ou charuto na minha boca. Isso foi muito bom porque até hoje nunca mais fumei e pude passar para meus filhos esse exemplo.

Havia festas com fogueira e as pessoas ao redor contando causos e tomando pinga, vinho ou quentão seja por qualquer motivo: Dia de Santo Padroeiro, nascimento ou falecimento de alguma pessoa. As crianças nasciam das mãos da Parteira que dificilmente perdia uma criança ou sua mãe. Doenças e feridas eram tratadas com ervas, garrafadas e rezas. Morte e vida eram consideradas coisa normal porque naquela época não havia vacina nem hospital por perto. Médico era “coisa de gente rica”. Eu mesma sobrevivi à desidratação com uma receita que a patroa da minha mãe conseguiu com o pediatra dos filhos dela.

Dos onze campos que existiam na nossa comunidade, o campo da Mangueirinha era o mais disputado. Papai sempre jogava nas disputas dos “casados x solteiros”. Não importava se eles ganhassem ou perdessem o jogo, sempre festejávamos, o importante era comemorar o dia de folga de domingo. Era o único dia da semana em que papai almoçava em casa e isso era feito com todos à mesa com pratos e travessas de lousa, por mais simples que fosse o almoço, papai fazia questão de fazer as refeições com todos os membros família sempre que ele não estava trabalhando. Lembro-me bem que eu não suportava café e ficava virando o bico do bule para o lado oposto.

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA EM TERESÓPOLIS


Quando eu tinha oito anos de idade meu pai teve um infarte e ficou de licença médica. Por esse motivo tivemos que ir para a casa da minha tia Isaura, em Teresópolis. Dessa vez me lembro bem de como foi a nossa vida naquele lugar paradisíaco. Um dia antes de partirmos tive um estranho sonho: eu entrava por uma brecha de um muro e saía em um lugar de muito verde, nublado e muito frio e via um homem velho careca usando uma capa beje. Acordei e no dia seguinte seguimos de trem pela serra rumo à cidade natal de mamãe.


O trem parava na estação de Quapimirim e vários garotos entravam nos vagões vendendo banana ouro que papai comprava para consumirmos durante o restante da viajem. Passávamos por cima de rios, cachoeiras e precipícios que me davam medo. Eu ficava segurando no parapeito da janela o tempo inteiro para o trem não cair lá embaixo. Sempre que eu via o trem chegar na estação eu me escondia na saia da minha mãe com medo do apito assustador da locomotiva, a tal da “Maria Fumaça” temida por todas as crianças da minha idade.


Bem, quando chegamos na estação final, que ficava na Várzea, entramos por um caminho atravessando um muro que havia caído. Eu saí correndo na frente de meus pais que vinham logo atrás de mim com minha irmãzinha Penha, ainda bebê no colo, e, para minha surpresa quem eu encontro, o tal velho com quem havia sonhado, só que ele usava um chapéu além da capa, e gritei: mamãe, papai, olha lá o vovô. E era o próprio velho Manoel Siqueira o velho que eu havia encontrado.


Depois de visitarmos o meu avô e sua quinta esposa vovó Carlota, que era viúva como meu avô e quando se casaram ambos já tinham muitos filhos, e ainda tiveram mais dois filhos, tio Fábio e tio César, fomos para a casa da minha querida tia Isaura. Tia Isaura era uma linda mulher, ela tinha uma casinha de pau a pique no meio da floresta, e ia e voltava do trabalho todos os dias de bicicleta. Ela trabalhava como cozinheira em uma pensão, a “Pensão da Dona Frida” que ficava num lugar que era a área “nobre” de Teresópolis chamado Alto, hoje logo na entrada da cidade quando se chega pela estrada que corta o Parque Nacional da Serra dos Órgãos.


Tia Isaura, além de ser muito bonita e batalhadora, também era uma pessoa muito alegre e muito à frente da sua época. Separada do marido e com três filhos para criar, além de trabalhar na Pensão da Dona Frida também alugava um quartos nas dependências de sua casa, com direito a refeições que ela mesmo preparava, para rapazes que vinham de outras cidades para trabalhar nas construções em Teresópolis. Lembro-me de que ela me colocava na garupa de sua lambreta e saíamos passeando pela cidade. Nos dias de Carnaval era ela quem nos levava aos Clubes e passeios pela cidade para participar dos blocos carnavalescos, eu me vestia de menino e meus primos de mulher nos blocos do sujo. Era muito divertido.


Nos finais de semana havia sempre festa no arraial do lugar onde Tia Isaura cantava calango com os sanfoneiros das redondezas que vinha sempre prestigiar suas festas. Quando a cantoria de calango era em algum lugarejo mais distantes, caminhávamos em fila e com lanternas de querosene nas mãos distribuídos estrategicamente ao primeiro da fila, ao último e algumas lanternas pelo meio da fila. Isto servia para afugentar os animais selvagens que abundavam no lugar. Lembro-me de uma ver ter visto uma onça enorme nos acompanhando pelo meio do mato, bem ao lado de nós.


As vezes os homens saíam para caçar e traziam paca, tatu e outros bichos que minha tia, minha mãe e vovó Ambrozina, sogra de tia Isaura, preparavam no fogão de lenha.


A cozinha era o lugar mais importante da casa devido ao frio do inverno todos se amontoavam ao redor do fogão para contar causos antes de dormir. Eu, menina levada como era, seguia meus primos em suas travessuras: à noite, enquanto os adultos conversavam, a gente pegava brasas do fogão e jogávamos no quintal escuro. De repente as brasas sumiam. Pela manhã a clareira estava repleta de sapos mortos com a barriga para cima. Coitados...

Uma passagem dramática que passamos foi quando mamãe deu à luz a um lindo menino quando eu tinha 6 anos de idade e minha irmã apenas 2. O bebê nasceu com mais de 4 quilos, perfeito. Como não havia hospital em Teresópolis, pelo menos que me lembre, e também era de costume os bebês nascerem pelas mãos das parteiras, que nem sempre eram pessoas qualificadas para tal, nosso lindo irmãozinho faleceu com 7 dias de idade com mau de umbigo. Nunca me saiu da memória aquela imagem de um pequenino caixão de madeira forrado com tecido branco descendo o caminha pela floresta em direção ao cemitério. Fiquei em casa com as outras crianças observando o cortejo até desaparecer no meio da floresta. Nesse dia tocava no rádio uma música cantada por Orlando Silva, sucesso na época, que associei para sempre àquela imagem do meu irmãozinho Miguel.

Quando meu primo mais velho começou a namorar uma menina de 13 anos, filha de uma família que morava nos arredores, a turma toda do lugar ia brincar de esconde-esconde. Um dia, inocentemente - eu era, a menor do grupo - fui me esconder com eles em cima de uma árvore e eles me empurraram lá de cima. Caí em um brejo cheio de sapos e comecei a gritar. Minha tinha mandou alguém me pegar e nunca mais me deixou brincar de esconde-esconde.


Uma das coisas de que mais gostava além de plantar violetas era fazer esculturas em argila. Havia uma mina de argila de todas as cores: branca, verde, rosa, azul, cinza. A que eu mais gostava era a de cor verde piscina e a branca. Era muito bom trabalhar aquela massa tão macia. Hoje acho que não existe mais argila como aquela.

A PRÉ-ADOLESCÊNCIA

Cresci pastoreando cabras, cuidando dos patos, marrecos, gansos e galinha que mamãe criava (era lindo ver os patinhos nadando no laguinho improvisado do quintal); tomando banho de rio e correndo descalça pelos campos e caminhos cobertos de pedrinhas. Apesar de magricela, eu era muito corajosa e arisca. Sobrevivi da difteria, subnutrição, amarelão, feridas, as muitas quedas morro abaixo, tornando-me uma linda mocinha com os cabelos negros e a pele de um pêssego.

Meu primeiro amor foi aos 7 anos, o nome dele era Lancar, um vizinho de olhos verdes, mas ele nunca soube que eu o namorava . Nós éramos muito crianças e em nossas brincadeiras de Pêra, Uva ou Maçã eu sempre escolhia Maçã, que boba que eu era e ele sempre me escolhia, pois éramos muito amigos. Nossas brincadeiras sob a luz das estrelas eram vigiadas pelos olhos cuidadosos de papai, que sempre me mimou e me protegeu muito. Quando eu tinha 16 anos um rapaz da Igreja foi lá em casa pedir pra me namorar. Papai concordou, mas impôs os termos dele: eu sentava num canto da sala, o rapaz no outro e papai no meio. Com relação à minha educação o que contou mais foi o amor, o respeito e consideração que meus pais tinham um para com o outro, mesmo nos momentos mais difíceis da vida, com tantos sacrifícios e dificuldades, o exemplo moral e os conselhos e conversas que tinha com papai.

Eu estudei o máximo onde pude. Tive a sorte de cursar o Primário – curso fundamental - na Escola Darcy Vargas – uma escola que era mantida pela Marinha. O ensino era muito amplo, além dos estudos tradicionais recebi também uma cultura geral: Música, Bordado, Educação Física, Civismo. A banda dos Fuzileiros Navais ia sempre nos dias de festividades e aprendíamos todos os hinos relacionados à nossa Pátria. Eu era muito esperta e assimilava tudo nos estudos, tinha uma excelente memória e quase sempre ficava em primeiro lugar nos exames de fim de ano, disputando as notas com um dos melhores alunos do colégio. As medalhas de ouro sempre cabiam a mim ou ao Davi, que por sermos muito aplicados disputávamos as melhores notas. Davi era um excelente menino, muito educado, estudioso e bom amigo.

Aprendi a ler aos sete anos com livros ou gibis que conseguia ter acesso. Apesar de não ter condição de fazer dever de casa porque trabalhava muito em casa, sempre fui muito aplicada nos meus estudos. Meu pai controlava a conta de luz desligando a energia às oito horas da noite. Eu lia e estudava à luz de velas. Mamãe trabalhava arduamente pra ajudar a pagar meus estudos, costurava e lavava e passava roupa pra fora e eu tinha que entregar de trem. Lembro-me que uma vez tive que me esconder no trem para um colega não me ver com a trouxa de roupa.

Quando era preciso comprar novos uniformes escolares, quando estes não me cabiam mais, minha mãe comprava dois números maiores para poder durar mais tempo. Ela também mandava o sapateiro colocar uma chapinhas de metal nas solas dos sapatos para durarem mais. Uma vez, quando vinha da escola com algumas colegas, ficamos brincando de chutar areia para dentro do rio e o meu sapato, por estar muito largo, saiu do meu pé caindo dentro do rio desaparecendo na correnteza sem que eu pudesse fazer nada. A partir do dia seguinte tive que ir com um pé de tamanco (era aquele tamanco português comprado no armazém do seu Toninho) e enrolava o dedão pra parecer que havia machucado o pé e ninguém ficar sabendo que eu não tinha o outro pé do sapato. Isso foi até terminar o ano seguinte quando mamãe teve condição de comprar outro par de sapatos. Meus uniformes tinham que durar os quatro anos do curso. A saia era tão comprida que mamãe fazia quatro dobras largas pra fazer a bainha. A cada ano ela soltava uma dobra conforme eu ia crescendo.

TRABALHO PRECOCE

Devido ao fato de ter que começar a trabalhar com 13 anos, estudava o Ginasial Profissionalizante em Pratica de Comércio pela manhã, à tarde dava aulas de reforço para alunos do Primário e Alfabetizava crianças para entrar na Escola Pública, à noite fazia o Curso Remington de Dactilografia. Com isso, consegui um emprego de Secretária do dono da Itatiaia Indústria de Café. No primeiro ano do meu curso Ginasial aprendi um pouco de Latim, língua obrigatória na época inclusive porque as missas eram oficializadas nesse idioma. Depois que o governo decretou uma lei retirando essa obrigatoriedade, os colégios optaram como língua estrangeira o Inglês ou o Francês. No segundo ano meu colégio optou pelo Francês e a partir da terceira série tornaram obrigatório o Inglês, que passou a ser o segundo idioma utilizado nas escolas.


Eu gostava mesmo era da Língua Portuguesa (Literatura e interpretação de textos), História (principalmente a parte de arqueologia porque nosso professor de História nos levava ao Museu da Quinta da Boa Vista e nos contava todas as histórias daqueles objetos ali expostos além de nos incentivar a amar o estudo de povos antigos), Geografia e Ciências. Eu era muito boa em Matemática porém por causa de divergências com o Prof. Nogueira (aliás um bom professor) tomei aversão à matéria. Mesmo assim o Professor Nogueira me defendia quando nós aprontávamos: eu e algumas colegas converávamos muito durante as aulas e isso incomodava o professor que chamava nossa atenção exortando as outra meninas e aplicando punições a elas, quanto a mim ele dizia que não iria me punir devido as minhas notas serem elevadas enquanto que as outras alunas, que ficavam fazendo bagunça na sala de aula comigo, não tinham boas notas e não se esforçavam para aprender nada.


Aos 16 anos de idade passei a estudar à noite porque fui trabalhar na Fábrica De Millus, em regime de horário integral de segunda a sábado, e quase todos os dias tinha que fazer hora extra porque trabalhava no Departamento Pessoal-RH. Não deu para continuar estudando. Deixei os estudos assim que terminei o ensino médio, o Ginasial Profissionalizante, com muito sacrifício. Só retornei aos estudos bem mais tarde, terminando o Segundo Grau aos 22 anos de idade, quando já estava noiva.

O CASAMENTO E MEUS TRÊS FILHOS HOMENS, PRESENTE DE DEUS

Após 8 anos de noivado, por livre e espontânea pressão do meu pai que não tolerava namoro por muito longo, me casei na Igrejinha de Santa Cecília, em Brás de Pina, aos 26 anos, passando a usar o nome de Isabel de Paula Miranda Rodrigues. Eu e meu marido trabalhávamos em expedientes diferentes: ele à noite e eu durante o dia. Após dois longos anos de casados tivemos nosso primeiro filho Miguel, um presente de Deus.

Quando Miguel estava com 9 meses descobri que estava grávida de novo, fato não aceito por meu marido e por sua mãe pois nós passávamos por dificuldades financeiras devido ao fato de eu ter saído do banco e meu marido ficou desempregado. Eu insisti em ter meu segundo filho porque sou totalmente contra o aborto... e arrisquei. Foi a melhor decisão que tomei na vida porque essa gravidez veio premiada com dois lindos meninos: Alberto e Érico, gêmeos idênticos. Senti-me como se fosse a rainha do mundo de tão feliz pois eles eram tudo o que eu sonhava. O meu tesouro aqui na Terra eram os meus três filhos. Quando os gêmeos estavam com 7 meses retornei ao mercado de trabalho. Enquanto trabalhava de prestadora em uma multinacional fiz concurso para uma empresa federal, onde trabalhei até me aposentar. Tivemos uma vida de muito trabalho.

Cuidar de três bebês já é uma tarefa difícil imaginem naquela época em que não existiam fraldas descartáveis, tendo que lavar as fraldas de pano no tanque e colocar água fervida depois torcer estende e após secas ainda ter que passá-las. Bem mais tarde é que pude comprar minha primeira máquina de lavar. E as mamadeiras para três sendo que para os gêmeos eram de duas em duas horas. Minha irmã ia todas as manhãs e mamãe à tarde e ficava para dormir conosco. Minha sogra e cunhadas também ajudavam muito e ainda vinham as amigas dar uma forcinha.


Eu desfrutava, imensamente feliz, de cada momento com os meus meninos. Aonde eu ia os levava, não ficava sem eles em nenhum final de semana ou feriado. Até aprendi a dirigir, o que não é o meu forte, somente pra poder levá-los pra todo lugar aonde ia ou precisasse ir. Eles participavam ativamente da minha vida. Nós passeávamos muito nos feriados e nas férias. Além dos meninos aprenderem a nadar cedo pelos banhos de mar e piscinas nós pescávamos camarões com tarrafa, andávamos de bicicleta, viajávamos pelas estações de águas de Minas Gerais e em todos os aniversários festejávamos geralmente com fogueiras e balões no quintal de nossa casa.


Tínhamos uma vida cheia de alegria com muitos amigos. Meus filhos eram muito queridos por todos da redondeza, ainda mais os gêmeos que faziam o maior sucesso com seu carisma e suas artes de moleques levados que eram. Uma de suas artes preferidas era fazer “coquetel molotof”, nome que davam às suas experiências com tudo o que encontravam na despensa ou por perto: detergente, sabão em pó, vinagre, água sanitária, esmalte, tinta (álcool, inseticidas, querozene, tintas etc. eram muito bem escondidos em um lugar muito alto onde eles não pudessem ter acesso). Por várias vezes fomos surpreendidos com fogueirinhas nos lugares mais inesperados: debaixo de sofás, camas, dentro de estantes, atrás de cortinas, já sabem no que dava se não estivéssemos atentos.


Um dia eles fizeram esse tal “coquetel molotof” em uma latinha no quintal. Eu estava preparando o almoço quando ouvii algo explodir e corri. Lá estava o Érico aos berros, todo salpicado por uma espécie de pixe nas partes da barriga e coxas. Isso aconteceu porque na hora em que o Érico resolveu fazer xixi para completar a química o Beto acendeu um fósforo e jogou na latinha o que provocou a explosão. Ainda bem que não tinha nada muito incandescente nessa latinha senão a explosão seria bem maior. Eles eram muito criativos.

Quando eu ia desfilar na Minha Escola de Samba eles me pediam para vestir a fantasia antes de sair para saber se eles aprovavam. Se algum engraçadinho mexesse comigo na rua eles respondiam: “vai mexer com a tua mãe!”

Após o divórcio, voltei a usar meu nome de solteira e, mais tarde, passei a usar meu nome de iniciação no hinduismo e no esoterismo: Mataji Ishani.

Éramos Quatro: eu e meus três filhos Miguel, Alberto e Érico.

Por coincidência: as primeiras letras de seus nomes, por ordem de nascimento, formava a palavra MAE.

Vivíamos como se fôssemos uma só pessoa, tal era o elo que nos unia. Meus três meninos juntos eram os meus defensores: companheiros, destemidos, belos e saudáveis, cavalheiros, talentosos, generosos, comunicativos, prestativos, carismáticos, carinhosos e protetores... e eu me sentia protegida com os "Meus Três Mosqueteiros", como os chamava.

UM SONHO REALIZADO: MINHA VIAGEM PARA A INDIA

Ao completar 50 anos de idade e 37 de trabalho me aposentei e, com o dinheiro que recebi, fui para a Índia fazer minha viagem de peregrinação, que era o sonho da minha vida.

Cheguei na India num período muito auspicioso: O "Maha kumbhamela" um grande festival nos lugares sagrados que acontece de 12 em 12 anos, às margens da confluência dos 3 rios (Ganges, Yamuna e Saraswati).

VIAGEM DE AVIÃO DE DELHI ATÉ O RAJASTHAN


Primeiro Fomos do aeroporto de Delhi direto para o Rajasthan. Ao entrar no avião que nos levaria até o Rhajastan não imaginei que ficaria tão assustada. O avião era tão velho e suas rodas empenadas que quando começou a se mover como uma geringonça descontrolada pensei dele se desmanchar, mas conseguiu levantar voo.

Voamos um pouco abaixo do que um avião de grande porte voaria, e isto possibilitou que tivéssemos uma linda visão ao anoitecer das paixagens e lindos castelos iluminados .

Quando o avião pousou no aeroporto do Rahasthan pensei que fosse se desmanchar ao pousar suas rodas no chão. O barulho era enorme e o avião chacoalhava-se do. Quando parou, senti um alívio por ainda estar vida.

O TEMPLO DO SENHOR BRAHMA EM PUSHKAR, RAJASTHAN

Ainda no Rajasthan, visitamos o fantástico Forte Jodhpur, muito divulgado e visitado pelos turistas e o magestoso Forte Chittorgarh.

Depois fomos a Pushkar, onde existe o único templo do Senhor Brahma na India. Um brahmane veio em minha direção e, conversando, se ofereceu para fazer uma cerimônia para o meu falecido filho Érico, lago do Deus Brahma, o que aceitei no e depois dei uma doação em rúpias a ele. Foi muito bom e essa homenagem me deixou muito leve. Perto do lago fica o templo dedicado a Brahma, o único na India, e alegam que é o único no mundo dedicado a este Deus.

O motivo de não haver outros templos dedicados ao Deus da criação, é a crença de que aqui Brahma faria um cerimônia de auto-flagelo. Quando sua esposa, Savitri, se atrasou para cerimônia, Brahma se casou com outra mulher. Quando a titular chegou e soube do ocorrido declarou que Brahma näo poderia ser adorado em nenhum outro lugar a não ser em Pushkar, o que o fiéis cumprem a risca.

PASSEIO DE CAMELO - PUSHKAR, RAJASTHAN

Em Pushkar existe também um deserto alugam-se camelos para os turistas. A gente senta no camelo mesmo, entre as corcovas, so com os arreios, sem aqueles aparatos de madeira que se usam nos elefantes.

Quando os camelos pegaram as areias do deserto saíram em disparada. Agora eu sei porque chamam os camelos de Navio do Deserto. É muito bom andar de camelo. O animal anda elegantemente e a gente vai de um lado para o outro, como se embalada pelas ondas do mar. Fiquei um pouco nervosa quando o meu camelo saiu em disparada pelas dunas do deserto, imaginando que fosse me perder, mas os guias que cuidam dos camelos assoviam e o camelo obedece e eles nos deixam no lugar de origem.

JAIPUR, CAPITAL DO RAJASTHAN

Em Jaipur é onde ficam os palácios mais interessantes da India. Uma de suas principais atrações locais é o Hawa Mahal, ou palácio dos Ventos, o que mais me chamou a atenção em Jaipur, pois elefica bem de frente para uma rua bem movimentada. Basicamente uma fachada toda trabalhada, o palácio foi construído em 1799 para permitir que as mulheres da corte pudessem observar o movimento das ruas sem serem vistas. Dizem que dentro do palácio o ar chega frenco, como se tivesse ar condicionado, devido a meneira como foram construídas essas janelas. É uma aquitetura muito bela e de fácil acesso pois fica de frente para a rua.

Uma abertura minúscula que não permite que ninguém da rua enxergue a parte de dentro. Foi assim, deixando apenas um orifício em uma das 593 sacadas e janelas do palácio, que o imperador Jai Singh protegeu as mulheres de seu harém quando construiu seu magnífico palácio, em 1799. Pelas aberturas, elas podiam ver as festas da rua, mantendo-se puras. Ainda bem que hoje as mulheres podem ver a construção também de fora e apreciar sua beleza.

A cidade rosa, como é conhecida, tem outros prédios além do Palácio dos Ventos, e ainda um observatório astronômico terminado em 1734. Além dessas maravilhas, há, em Jaipur, palácios do século 19, um forte ao qual se pode chegar montado em elefante, o que não achei muita graça porque eles colocam um acento de madeira com lugar para 4 pessoas e não dá para se ter um contato mais direto com o animal.

Em Jaipur também tem um forte comércio e encontrei uma agência do Banco da India, onde pude trocar meus dólares por rupias. Também comprei duas malas enormes, que deu para trazes muita coisa que havia comprado pelos lugares em que ia passando. Em cada lugar existe um tipo direrente de tecido, de artesanato. Jaipur também é muito bom para se comprar jóias de ouro e prata com pedras preciosas e semipreciosas e tecidos e roupas maravilhosas.

UDAIPUR, RAJASTHAN

Udaipur fica próxima a Jaipur, uma enorme cidade. Nessa cidade visitei o templo de Sri Nataji, um dos templos que recebe a maior parte de donativos dos comerciantes e devotos de todos os lugares da India. Entramos na sala do tesouro e haviam muitas jóias que haviam sido doadas naquele dia.

Na hora em se abre o alter de Sri Nataji, uma multidão de indianos se amontoam na frente do altar e empurrar os que estão dentro para o outro lado, e os que saem no empurra empurra, voltam pelo outro lado e começa tudo de novo, uma loucura, mas que eu adorei. Me senti uma perfeita indiana naquele tumulto.

Nas ruelas do lugar existe uma enorme variedade de artesanato em metal , parafernália para cozinha, para arati, decoração, dentre outras coisas. Comprei minhas deidades em uma loja em frente ao templo de Sri Nataji.

AGRA, UTTAR PRADESH

O FAMOSO TAJ MAHAL



Em Agra, como em Dheli, existem muitos castelos e monumentos lindíssimos, mas o que mais chama a atenção é o famoso Taj Mahal, um monumento que serve de túmulo para uma rainha chamada Moon Taj Mahal. Ele é feito de mármore branco, todo desenhado com um metal amarelo parecendo ouro e com pedras encravadas formando lindos desenhos de flores vermelhas e amareladas e ramos verdes, me disseram que era jade.

Por trás do Taj Mahal passa o rio Jamuna. Conforme a hora do dia, o tempo e a cor do céu, o mármore absorve a luz e o Monumento muda de cor. Da sua cor original branca ele absorve o tom rosa do por do sol, o azulado do anoitecer e assim por diante.

Dentro do Taj Mahal tem um túmulo pequeno bem ao centro, onde está enterrada a Rainha Moon Taj Mahal. Ao lado direito de quem olha, tem um túmulo bem maior, que pertence ao seu esposo e construtor do Monumento ao Amor, Shah Jahan. Na frente existe uma escada, que fica protegida por um portão de ferro. Lá embaixo existe outra sepultura que dizem ser do seu filho e sucessor Aurangzeb.

O FORTE VERMELHO


Construído sob as ordens de Shah Jahan, o imperador responsável pela criação do Taj Mahal, este é mais um belo exemplo da arquitetura indiana. Um viajante do século XVII chegou a se referir a ele como uma maravilha superior às prometidas no paraíso. As pedras vermelhas usadas nas paredes deste monumental conjunto arquitetônico indiano não são as mais preciosas, mas influenciaram diretamente seu nome: Red Fort (Forte Vermelho).

Localizado na região conhecida hoje como Velha Delhi, foi construído no século XVII. Na época, o soberano era Shah Jahan; após a morte da esposa, o rei decidiu transferir de lugar a capital do reino, até então sediada em Agra. Não poupou esforços nem recursos na tarefa de criar a cidade real.

Palácios adornados de ouro, prata e pedras preciosas, ladeados por jardins das mil e uma noites, ganharam vida a partir dos desenhos dos arquitetos reais. As riquezas e parte da construção, entretanto, não resistiram aos saques e à deterioração. Ainda assim, o muito que restou do Red Fort ainda permite vislumbrar a opulência daqueles tempos remotos.

JAMA MASJID


A mesquita, construída sob as ordens de Shah Jahan, próxima a Red Forte Vermelho, é a maior da Índia.

VARANASI


Varanasi (ou Benares) fica localizada no estado de Uttar Pradesh. Varanasi, a cidade mais antiga na beira do Rio Ganges; fica no ponto considerado como o local mais sagrado de todos, bem no meio do Ganges, onde está o único trecho que vira para fluir de volta às montanhas onde nasce.

Em Varanasi nos banhamos no Ganges de saia e blusa porque o lugar é muito frequentado por sadhus e é considerado muito sagrado. Suas escadarias dão a impressão de imponência ao Rio Ganges. Ao longo do Rio existem construções parecidas com grandes palácios e abaixo as escadas, suas construções corroídas pelo tempo, faz-nos lembrar de como seria luxuosa e bela esta cidade adentrando o Rio Ganges tempos atrás. Mais recuado fica o lugar onde os mortos são cremados.

O MAHA-KUMBHAMELA EM RARIDWAR


A Cerimônia do Ganga-Puja no Maha-Kumbhamela: De acordo com a mitologia hindu, os deuses e os demônios combateram um dia para a posse de um vaso (kumbh) que continha o amrit, néctar ou bebida sagrada. Vishnu, a divindade que sustenta o universo, teria roubado o vaso dos demônios, levando-o para o céu. Durante a luta, quatro gotas da bebida divina teriam caído na terra, em quatro lugares diferentes da Índia. Esses lugares, onde o divino encontrara o humano, são considerados lugares sagrados.

Em Haridwar, na época do Kumbhamela, o governo manda fazer uma cidade de tendas, enorme, a perder de vista. Vem peregrinos de todas as partes do mundo. Achei muito interessante e até bizarro os homens alteres. Eles caminham milhares de quilômetros com metais atravessando várias partes do corpo, rosto e até a lingua para sustentar os altares e enfeites para adoração à Deusa Ganga.

A quantidade de mendigos é enorme. Os sadhus descem as montanhas nessa época para se purificarem e também para receber doações, pois é muito grande a quantidade de peregrinos. A cerimônia do Ganga-Puja é emocionante. São Muitos os brahmanes que fazem o ritual. Eles acendem enormes lamparinas de ghi (manteiga glarificada) e rodam antando mantrans e sopram conchas fazendo um som especialmente belo. Os cantores entoam hinos védicos que dá para ser ouvido do outro lado do Ganges.

Os devotos e turistas, inclusive eu, oferecem barquinhos feitos de volhas de bananeira e enfeirados com flores e lanparinas de ghi acesar e colocamos nas águas do Ganges. Fiquei olhando meu barquinho descer sem nenhuma dificuldade pelo rio abaixo. É muito gratificante se ver que nossa oferenda foi bem aceira pela divindade.

No dia da nossa saída de Haridwar para continuar nossa peregrinação, descobri que havia um templo de Durga bem no alto do Monte onde se faz a cerimônia do Kumkhamela. Tentei subir a montanha mas a pressão subiu e eu não consegui terminar a subida, tendo que retonar. Depois que saímos de lá é que me disseram que há um teleférido que nos levaria até o templo de Srimati Durga.

RISHKESH


Em Rishkesh, na descida das águas geladas do Ganges, tomamos banho naquelas águar limpas e puras. Mergulhei bem fundo e ao retornar parecia que meus poros brilhavam. Fiquei ali bastante tempo, tomando sol,mergulhando e bebendo daquela água sagrada.

À noite no hotel eu pedia para aquecerem a água para o meu banho devido ao frio que faz na região.

Rishkesh é um lugar muito bonito, com florestas verdes, e a água vem diretamente do rio Ganges, geladinha.

Ficamos hospedados em Hishkesh, onde começa a subida para as montanhas, onde assisti e participei desse grande evento por 15 dias.

Todos os dias descíamos para as festividades do Ganga-Arati em Haridwar. O grande festival Maha(grande) Kumbh Mela é celebrado nesses lugares, a cada doze anos, justamente para celebrar o contato da substância divina com a terra.

A NASCENTE DO GANGES

Nas Montanhas SIVALIK, onde começam as monções pela queda de grandes porções de água que sai arrastando tudo o que estiver no caminha. Essas correntezas carregam não só as águas do degelo, mas também uma quantidade enorme de sedimentos de terra fértil que são distribuídas por toda a planície do Ganges.

Na confluência dos rios Araknanda e Bhagirathi (rios extremamente turbulentos), a partir daí o rio que se forma desses dois afluentes é chamado de Ganges pela primeira vez. Neste local de águas tão violentas, fica a cidade de DEVPRAYAG.
À medida em que descemos encontramos o rio Ganges mais alargado e profundo e, por conseqüência, mais calmo. A partir daí começam a surgir grandes cidades. Avistamos logo a Passarela Lakrhman Julaque atravessa o Ganges na cidade de RISHKESH

Por esta passarela encontramos muita gente e também vacas e macacos travessos que ficam arrancando qualquer coisa que puderem de nossas mãos – sacos com alimentos, máquinas fotográficas, óculos - andei com minha cabeça coberta até o nariz ara que eles não pegassem os meus óculos como fez com um rapaz do nosso grupo, o coitado ainda era míope.

Depois vem a cidade onde realmente o Ganges tem sua real forma: RARIDWAR.

MEDITANDO NO CUME DO MONTE LAKSMI

Em um desses dias alugamos um carro apropriado e subimos o monte de Laksmi, nas montanhas SHIVALIK.

Durante a subida passei por outro aperto. O carro em que viajávamos - um ônibus TATA largo - e no sentido contrario vinha um caminhão da mesma marca - TATA - igualmente largo. Parece que essa companhia monopolisa o meio de transporte rodoviário na India. A estrada na montanha era em zig e zag e muito estreita. Quando avistávamos uma aldeia lá em cima a perder de vista, ao passar por ela e subindo mais um pouco, ao olhar para baixo a aldeia parecia muito abaixo, a perder de vista, e assim sucessivamente subindo, subindo.

E plantações nos terraços ondulantes esculpidos nas encostas íngreme, onde quase tudo é cultivado com muita dificuldade pois, pelo que pude observar, nesse montanha não havia rios com águas em abundância como nos vales mais abaixo.

Também não percebi nenhum tipo de pássaro ou inseto nesse lugar de altitude. No topo da montanha parece que tudo fica muito longe, como se a montanha fosse isolada de todo o resto das cadeias de montanhas do lugar.

Ao passar pelo caminhão nosso carro esbarrou com o enorme retrovisor no caminhão fazendo um barulho de batida. Não tive coragem de olhar para trás para saber se o caminhão caiu no abismo ou não. O motorista do nosso veículo, ao ver que eu estava muito pálida e assustada, dava gargalhadas, dizendo para eu ficar tranquila porque eu não tinha bom carma para morrer naquele lugar. Imaginem.

No norte da India, pelo menos nos lugares que percorri, não existem sinais de trânsito nem multa a não ser nas metrópoles. Vi um taxi cometer uma infração e o guarda de trânsito ao invés de multar, como em todos os lugares, ele batia no motorista de cassetete e o motorista saia correndo, acionava o veículo e fugia dando risadas.

O restante da subida até o topo, onde existe um mosteiro budista, subimos a pé. Foi o trajeto mais difícil para mim por causa da subida naquela altitude, sendo a última a chegar.

Quando chegamos no mosteiro, os integrantes do meu grupo ficaram conversando com os monges e eu fui contemplar a beleza do lugar, que era completamente silencioso; a sensação de paz era absoluta. Sentei-me de frente para o monte de Shiva, avistado ao longe iniciando a cadeia nevada dos Himalaias.

A sensação era de frustração devido as densas nuvens que cobriam as montanhas. Fiquei por algum tempo meditando e orando para que me fosse concedida a graça de ver de perto as montanhas... Jamais faria tal viagem novamente nesta vida pois não suportaria aquela subida novamente. Então, como se fosse um milagre, as nuvens se levantaram como se um enorme braço as elevasse fazendo com que aparececem todas as montanhas por alguns momentos. Depois novamente as nuvens baixaram e quem não estava presente não pode ver o evento.

Senti-me afortunada por ter recebido tal graça dos deuses. Após contemplar a cadeia de montanhas e, em especial o monte de Shiva, agradeci silenciosamente a bênção recebida. Fiquei o tempo inteiro completamente muda, aproveitando aquele momento de reflexão e êxtase.

O RIO YAMUNA

O Rio Yamuna é quase tão extenso como o Rio Ganges, passando por várias cidades de norte a sul.

Dizem que agora está proibido cremar os mortos à beira do ganges e fomos jogar as cinzas de um filho de uma devota senhora que mora no Rio de Janeiro, assim como eu, no Rio Yamuna. Foi uma cerimônia muito bonita. Saímos em dois barcos todos decorados com flores e bandeiras.

Quando Chegamos em um banco de areia, descemos do barco e a cerimônia foi efetuada por um brahamane. Haviam muitos doces cobertos com folhas de prata e de ouro. Guirlandas de flores foram jogadas no rio e a que eu joguei abriu-se formando uma coroa.

VRINDAVANA


Segundo a lenda, a deusa do rio Yamuna é irmã de Yama (o deus da morte), e filha de Surya (o deus do Sol. Segundo os Vedas, Krsna passou a sua infância nas águas do Rio Yamuna. Mais precisamente em Vrindavana, perto de Mathura, a penúltima estação de trem antes de chegar a Delhi.

Em Vrindavana fiquei 15 dias antes de continuar minha jornada para o Leste da India. Almoçamos um dia na casa de uma família de comerciantes local, tendo a oportunidade de ver o interior de uma casa tradicional indiana, seu modo de vida, e organização familiar, onde o serviço da casa é administrado pelas mulheres da família e o comércio fica com os homens. Cada loja é gerenciada por um irmão mais velho assessorado por seus filhos e sobrinhos.

Em Vrindava também existem muitos templos e palácios e portais muito antigos, onde são reverenciadas várias divindades védicas, tais como Hanuman, Jagannatha, Nrsinhadeva, Krsna - onde pude ver as filas de pessoas nas portas do templo recebendo alimentos que são distribuídos aos pobres todos os dias. A tradição diz que onde existe um templo de Krsna não pode ter pessoas passando fome nos arredores de até mais ou menos 3 mil metros.

Fiz de Vrindava meu ponto de referência para os outros lugares. Ao chegar a época de retornar ao Brasil, voltei a Vrindavana e fiquei mais 3 dias para me refazer e me despedir das pessoas e do lugar onde é a morada eterna dos passatempos de Krsna, peguei um taxi até Delhi e voltei ao meu país natal.

MAYAPUR


Em Mayapur, onde fica a maior cidade dos devotos de Krsna e onde moram muitos devotos estrangeiros, existe o mais importante templo Hare Krsna, onde fica o Samadhi (sepultura) de Sua Divina Graça Swami Bhaktivedanta Praphupada. O movimento nas margens do Ganges e pelas ruas da cidade é intenso. Encontrei pessoas de todos os lugares do mundo. Todas as tardes eu subia até o alto do templo para assistir o lindo por do Sol no Rio Ganges.

No Festival do Holi eu estava em Mayapur e me diverti muito com a guerra de pós coloridos que eram jogados sobre as pessoas nas ruas. Apesar das instruções de nosso guia para não sair sozinha às ruas, eu me aventurei e adorei aquela festa de rostos, cabelos e roupas coloridas como se fossemos telas humanas.

Também não segui as instruções do guia e saía todas as manhãs e me misturava com as mulheres na beira do Ganges para fazer minhas orações. Um dia resolvi pegar um barco sozinha. Contratei os marinheiros de um barco grande por indicação de um indiano que trabalhava em Mayapur e com quem fiz amizade e ele negociou com os homens, que me levaram até um grande banco de areia, onde fiquei por mais ou menos 1 hora recolhendo aquela areia bem fina do rio sagrado, e depois eles passaram e me trouxeram de volta.

Ao descer do barco minhas pernas não alcançavam a margem, então dois distintos senhores, que pareciam de uma casta de comerciantes bem sucedidos, me pegaram pelos ombros, um de cada lado, e me colocaram na calçada no meio das mulheres, onde eu já me acostumara com sua companhia. Me senti como que em casa.

Dentro da cidade murada, havia festas todos os dias. Houve um lindo parikrama com um elefante todo enfeitado de panos coloridos e dourados e guirlandas de flores, que não se assustava com as chamas das lamparinas da cerimônia durante o trajeto que passava pelos jardins e rodeava pela cidade até à entrada do templo.

Ouvi uma estória impressionante sobre a mãe desse elefante, que nasceu e foi criado em Mayapur. Dizem que sua mãe fazia sempre esse parikrama com a deidade de Krsna durante anos. Um dia a elefanta adoeceu e não melhorava mas também não morria. O tratador foi até o Sacerdote e pediu que levassem a deidade para a elefanta ver porque parecia que ela sentia saudades. O sacerdote assim o fez. Ao ver a deidade de Krsna, a elefanta olhou com um olhar de alivio, suspirou e logo a seguir morreu.

Por toda a planície do Ganges encontramos muitas cobras às margens do rio, e que invadem as casas e outras construções. Eu presenciei em Mayapur eles matarem uma cobra que assustava os turistas, mas na maioria das vilas os indianos convivem com as serpentes da mesma forma que com outros animais.

NAVADWIPA - Conhecendo os lugares sagrados dos Vaisnagas eruditos

OS TEARES DE ORISSA

BHUBANESHWAR

A PRAIA DE PURI

O JAGANATH MANDIR

A sala dos espelhos no palácio de Delhi

A comovente oferenda em forma de cântico

RETORNO A VRINDAVANA

DE VOLTA AO BRASIL

AEROPORTO DO GALEÃO

ABRAÇANDO MEUS AMADOS FILHOS